Deus Filho e o segmento que leva ao Reino
Texto 4: Experiência de Deus - Vocação de Jesus e nosso chamado
Deus Filho e o segmento que leva ao Reino
A ação de Deus entre nós sempre envolveu
pessoas em seu desenvolvimento e concretização. Mesmo não precisando, Deus se
fez necessitado da humanidade para fazer acontecer seu projeto entre nós. Foi
assim no primeiro/antigo testamento com a ação dos patriarcas, profetas e
profetizas e foi assim no segundo/novo testamento com sua ação direta através
de Maria, como vimos na lição três.
Perceber como se deu o chamado de Maria e o
desenvolvimento de sua resposta torna-se uma grande provocação a fazermos a
experiência de Maria, buscando ter um nível de sensibilidade à convocação e
abertura para uma resposta comprometedora com esse grande projeto do Reino de
Deus. Este Reino é plenamente revelado em Jesus Cristo. É Ele quem nos dá
notícia do Pai, sobre como devemos proceder. Por isso vamos ver alguns passos
dados por Jesus diante da proposta de Deus Pai neste quarto texto.
Jesus chega até nós e nos
interpela
O Padre
Alfredo J. Gonçalves, CS, diz que o Mistério da Encarnação aponta para a
irrupção de Deus na história. A atitude de Deus, ao se encarnar, vem nos interpelar,
sobre nossa história pessoal e coletiva, nos questionando sobre nossa
participação nesse processo de Salvação. Desinstala-nos vocacionalmente,
ajudando-nos a superar duas tendências muito presentes na condição humana: a
inércia e o comodismo que marca nossa paralisação na missão, por um lado, e a
agressividade que marca nossos relacionamentos, por outro.
“Deus se faz gente
na ‘casa’ de Maria e José de Nazaré. José, esposo de Maria, é homem simples e
camponês da Galileia, criado segundo os costumes e as leis da sua religião. Na
casa de José, inicia-se com Maria uma nova genealogia que nomeia mulheres que
rompem com o poder violento e patriarcal. Na casa de José, não mais só de José,
mas também de Maria, é gerado o novo Homem, Jesus, o Filho de Deus. Na casa de
José e de Maria, Deus se faz gente” (Pe. Alfredo).
O evento Jesus de Nazaré foi uma graça
para José, Maria, os reis magos, pastores e para todos nós. São Francisco de
Assis foi o primeiro a construir um presépio vivo. Francisco vê, admira e se deixa
cativar pelo amor divino pobre e humilde revelado na gruta de Belém,
representado em Greccio, cidade onde edifica o presépio. Apresenta, com o
nascimento do Deus menino, a condição da existência humilde, na pobreza da vida
de Jesus, no modo de encontro e inserção no mundo humano, no despojar radical
na cruz, como símbolo de serviço incondicional de si mesmo na história da
salvação.
É com a maneira que Deus escolhe para ser
presença no mundo, lugar pobre/presépio, que Francisco e Clara de Assis opta
por sua vocação: ele admira e se sente chamado a corresponder sem reservas a
Deus que se revela como amor, mas em forma despojada de vestimentas humilde, da
pobreza, do despojamento total.
Vocação de Jesus
Vimos, no terceiro texto, a atuação
de Maria na vida de Jesus. As leituras que mostram a trajetória percorrida por
Jesus indicam que mesmo sendo o Filho de Deus, mesmo enviado pelo Pai, ele teve
que ir descobrindo como esse chamado deveria se concretizar, no dia-a-dia, em
meio a uma realidade que o interpelava. Maria contribui muito nesta catequese
básica que passou pela convivência em casa e na comunidade. O texto bíblico
mostra que Jesus foi crescendo não somente fisicamente, mas também na fé (Lc
2,40).
É muito importante, para o nosso
processo de discernimento vocacional, perceber que Deus se submete ao caminho
natural humano quando se faz um de nós, em Jesus. Perceber que Jesus tinha que
aprender e que ia crescendo, nos revela a nossa possibilidade de segui-lo e
percorrer o caminho proposto por Ele. Esse caminho não foi rápido, somente aos
trinta anos Jesus é batizado (Lc 3,21-22).
No texto número dois refletimos que
o batismo marca a vida pública de Jesus no que diz respeito ao anúncio do Reino
de Deus. Ao discernir sobre sua missão, Jesus anuncia publicamente seu projeto
(Lc 4,14-21) e convida pessoas para ajudá-lo (Lc 5,1-12.10,1-16). Mesmo sendo o
Mestre, Jesus não quer ser um missionário isolado, ter méritos sozinho; ao
contrário, constitui comunidade, convida pessoas para ajudar na messe e envia
sempre de dois em dois.
Inspirado em
Jesus, ser Discípulo/a
Como vimos acima, Jesus não quer ser missionário
sozinho, mas chama e envolve outras pessoas nesta causa. Ao responder o
chamado, Ele chama a outros/as para o discipulado. Ele é o Mestre que se faz
servo mostrando aos seus discípulos/as uma maneira nova de servir a Deus e ao
próximo/a.
Jesus ensina não somente o jeito de ser
servo, mas mostra como fazer aos seus: cuida de cada um, chama e resgata os desviados.
Esta é uma inovação para a época, pois os rabinos judeus tinham uma forma própria
de serem mestres, sendo aqueles que conheciam e ensinavam as leis. Discípulos
os seguiam, literalmente falando. Havia prescrições para este seguimento: o
mestre caminhava sempre alguns metros à frente dos discípulos, e sentava-se
sempre em local mais elevado que estes, olhando-os de cima. Jesus se põe ao
lado, faz caminho com seus discípulos e dá testemunho.
Desafios no
seguimento de Jesus
O itinerário apresentado por Jesus
primeiro é percorrido por Ele mesmo, não havendo uma falsa promessa, mas um
testemunho. Jesus aprende com sua própria história, na comunidade e com as
escrituras, é batizado, diz sim à missão, porém tudo isto não impede que Ele
sofra com os desafios que aparecem para desviá-lo na missão (Lc 4,1-13). Para
aprender com tudo, e vencer os obstáculos, Jesus cultiva sua intimidade com o
Pai através do diálogo e da oração (Lc 11,1-4).
Jesus não para diante dos desafios que
aparecem, mas aprende, transformando os obstáculos em escola da fé. Jesus
mostra esta imagem de aprendizagem na transfiguração diante dos apóstolos
Pedro, Tiago e João. “Seu rosto tornou-se brilhante como o sol e suas vestes
brancas como a neve” (Mt 17,1-2). Esta é uma imagem tão bela para seus
discípulos, que Pedro quer permanecer ali para sempre: “Como é bom estarmos
aqui” (Mt 17,4).
Essa imagem transfigurada é fruto de um
caminho percorrido, de testemunhos dados e de uma intimidade profunda com o
Pai, capaz de transmitir sinais de acerto vocacional para aqueles que seguem o
chamado de Deus. Não somente Jesus foi convidado a este feito, mas, também nós.
A vida nos mostra que ao sermos transfigurados, no dia-a-dia, diante da
realidade que nos convoca ao testemunho, ao mesmo tempo, somos também provocados
à traição do projeto, diante de tantas outras propostas que contrariam o
chamado.
A partir das vivências de Jesus “Se
alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e nós viremos a
ele, e faremos nele morada” (Jo 14,23), muitos de seus seguidores deram
testemunho sobre a possibilidade de se transfigurar, de transformar os limites
em potenciais para a missão. Paulo: “não sou eu quem vivo é Cristo quem vive em
mim” (Gl 2,20); Pedro: “somos participantes da natureza divina” (2 Pd 1,4). Os
testemunhos dos primeiros vocacionados não podem ser somente admirados e
venerados, mas devem inspirar atitudes, em nós, desse tempo que pede resposta.
Para isso é preciso não somente observar o itinerário de Jesus e de seus
discípulos, mas construirmos nosso próprio itinerário inspirado Neles.
Itinerário
vocacional: nosso chamado!
Vimos que Jesus
percorreu um caminho e ensinou, a todas as pessoas convidadas, a percorrerem um
itinerário conforme o seu testemunho de vida e a história de cada pessoa.
Construir um itinerário pressupõe duas realidades: inspiração divina no caminho
proposto por Jesus e a história de vida pessoal. A história pessoal, familiar e
social deve ser assumida para contribuir como material que dê suporte na
edificação e não como peso que impeça a visualização do novo.
Sintonia com nossa
história de vida significa novo olhar sobre a vida e os acontecimentos. É um
olhar iluminado pelas atitudes de Jesus que vai nos mostrando o caminho, nos
revelando; não é apesar de nossos limites que Ele quer contar conosco, mas a
partir deles, aprendendo com cada dificuldade e desafio é que vamos crescendo
na fé e na missão. Estando de olhos fixos em Jesus conseguiremos essa dupla
mirada, nossa história e história da salvação, pois esse olhar implica em
estarmos atentos/as à realidade interna e externa, que clama pela experiência
de Deus e por nosso testemunho/ação. Estarmos atentos/as a essa realidade é o
mesmo que perceber a gênese que concebe o ser ou, utilizando uma analogia, é a
base que edifica a construção.
A partir da
tomada de consciência da própria história e sobre as questões que contribuíram
para essa constituição, será possível iniciar a reflexão sobre o itinerário que
leva ao discernimento vocacional e uma possível construção de um projeto de
vida. Esse caminho será percorrido através do chamado de Deus, que utiliza de diversas
situações do cotidiano, como vimos acima quando falamos sobre o olhar fixo em
Jesus.
O chamado
vocacional traz presente uma realidade profunda da pessoa, pois tem relação
direta com o divino. O chamado é divino e a resposta é humana, manifestando um
movimento entre o divino e o humano. Esta resposta humana não diz respeito
somente a uma satisfação de um mero desejo pessoal ou de sentir-se realizado/a
em determinadas tarefas gratificantes (SAV/CNBB, 2009). Refletir sobre a
dimensão vocacional é ir ao encontro dos desejos individuais, que encontram o
propósito no sonho de Deus, nossa realização em seu Reino.
Questões
1)
Sobre a vocação de
Jesus, reflita:
A – Jesus, em sua
intimidade com o Pai, vai descobrindo sua vocação.
B – Jesus já nasce
sabendo que é Deus e resolve todos os problemas com milagres.
C – A convivência na
comunidade e a leitura das sagradas escrituras ajudam Jesus em seu
discernimento vocacional.
2)
Sobre o chamado
para o discipulado de Jesus:
A – Ser discípulo/a é
imitar Jesus.
B – Discipulado é
ensinar o que agente quiser.
C – Ser discípulo/a é
fazer experiência de Deus a partir dos ensinamentos de Jesus e dar continuidade
à missão.
3)
Sobre o itinerário
vocacional:
A – Para construir o
itinerário vocacional é preciso observar o caminho percorrido por Jesus e a
história de vida pessoal.
B – Vocação é ser
feliz de qualquer forma.
C - Para compreender o
chamado de Deus é importante estar atento/a à palavra de Deus, à realidade
familiar, comunitária e social.
Referências
Texto: ‘Deus irrompe na história’, Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Textos Bíblicos: Lc 2,40; Lc
3,21-22; Lc 5,1-12.10,1-16; Lc 4,1-13; Lc 11,1-4; Mc 2,14; 3,13; Mc 10,29; Mt
8, 19-22 10,37; 19, 16-22; Mc 10,39; 12, 9-11; Mt 10, 18-20; Lc 9, 23-24; 14,
27; Mt 10,38; 16,24; Mc 8,34; Mt 19, 22ss;
Frei Rubens Nunes da Mota, OFMCap.
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