SÃO FRANCISCO
Francisco
de Assis viveu oitocentos anos atrás. Foi um jovem extrovertido, generoso e
cheio de sonhos de grandeza, até que, um dia, descobriu Jesus Cristo. Ele achou
que tinha sido chamado por Deus e entrou para valer em uma vida nova. Quando
morreu, todos acharam que ele tinha sido transformado em um outro Cristo, mil e
duzentos anos depois. Agora, já fazem oitocentos anos que ele passou por esta
terra. Você não seria capaz de lembrar os nomes dos seus quatro bisavôs e das
suas quatro bisavós, que viveram no século vinte, mas certamente já ouviu falar
em Francisco de Assis, que viveu no século treze. E você? O que está fazendo
deu sua vida? Você não acha que também foi chamado por Deus? Pode não ter sido
para fazer as mesmas coisas que Francisco fez. Mas, lembre-se, Deus não colocou
você à-toa neste alvorecer do século XXI.
No
dia 4 de outubro de 1226, juntou-se uma multidão numa capelinha fora da cidade
de Assis. Homens, mulheres, crianças, mas principalmente frades que iam
chegando. Morrera o Irmão Francisco, que quase todos tinham como santo. Mas
ninguém estava preparado para a surpresa: Viam-se enormes pregos atravessando
suas mãos e seus pés. A roupa rasgada deixava ver uma grande ferida no peito. E
ele, antes moreno, estava pálido, mas muito bonito. Parecia um santo. Santo?
Bem depressa alguém murmurou, espantado, que ele era mesmo um outro Cristo. E a
voz se espalhou.
Ele
era filho de Pedro Bernardone, um dos homens mais ricos da cidade. Naquele
tempo, importantes e poderosos eram os nobres, mas tinha começado a surgir uma
classe nova: a dos que não eram nobres mas estavam conseguindo fazer dinheiro.
Pedro de Bernardone era um desses. Começou vendendo peças de pano mas tinha
tamanho tino que cresceu depressa. Fazia excursões à França para buscar tecidos
mais preciosos. Numa das vezes, trouxe até uma bonita moça francesa que passou
a ser sua esposa. Seu nome era Joana mas, como vinha da Picardia, com o apelido
de Dona Pique. Quando o primeiro filho nasceu, Pedro estava viajando. Joana
batizou-o com o seu nome. Mas, ao voltar, o pai pôs no seu Joãozinho o apelido
de Francisco, ou "francesinho". Aquele menino era uma alegria.
Cresceu esperto, aprendeu a ler e a escrever com os padres da igreja de São
Jorge e logo começou a ajudar o pai na loja. Ele era bom para ganhar dinheiro.
E para gastar também. Mas Pedro ficava feliz: via que ia ter uma velhice ainda
mais rica e importante. Alegre e rico, Francisco era o rei das festas. E das
aventuras. Queria até ser cavaleiro, o que, naquele tempo, era o mesmo que ser
nobre. Era preciso ter muito dinheiro para comprar cavalo e armas. E tinha que
se distinguir primeiro em combate.
Tinha
vinte anos quando entrou numa guerra. Faria quatro anos que os plebeus ricos de
Assis estavam lutando com os nobres, que foram expulsos da cidade. No começo, o
rapazinho só pôde ajudar a carregar pedras para construir a nova muralha. Em
1202, deixaram-no combater em Collestrada, bem perto da cidade. Os nobres
venceram e ele foi preso. Só saiu da cadeia um ano depois, porque o pai pagou.
Mas ficou doente um bom tempo. Quando sarou, comprou armas e um bonito cavalo
para ir para uma guerra em outra região da Itália, na Apúlia. O dia da partida
foi uma festa. E ele estava exultante, porque até tinha sonhado que sua casa
tinha virado um castelo cheio de armas. Voltou poucos dias depois. E não queria
mais saber de cavalos nem de guerras. Nem de negócios e nem de trabalho.
Passava os dias vagueando pelos campos fora da cidade. Não sabia mais o que
queria. Só sabia que alguma coisa importante ia ter que acontecer na vida dele.
Sonhara outra vez: estava em um castelo de armas, como na primeira ocasião. Mas
uma voz forte penetrara lá dentro dele perguntando se ra melhor seguir o servo
ou seguir o senhor. A resposta também veio lá de dentro: - Senhor, que queres
que eu faça? E essa resposta-pergunta não saía mais de dentro dele. Revirava-se
na cama de noite e passa os dias caminhando sem saber para onde. Ele sabia que
alguma coisa tinha mudado para sempre, mas não sabia o quê. Os outros
perguntavam o que aquele homem de vinte e quatro anos ia fazer na vida e ele
mesmo não tinha a mínima ideia do que ia ser. Chegou a voltar para um daqueles
jantares festivos com os rapazes e moças de sua companhia. No fim, quando
saíram cantando pela rua, ele se sentiu paralisado no caminho. Aquela força do
sonho tinha voltado. Ele teve a certeza de que ia ficar sabendo o que tinha que
fazer, mas viu logo que não seria tão cedo. Uma coisa era certa, cada vez mais.
Era Deus que estava mexendo com ele. Começou a passar horas, talvez dias, nos
buracos que encontrou pelas montanhas. E alguma coisa lá de dentro, um
"espírito" novo fazia com que orasse ao Pai dos céus. Mas o escuro
continuava.
Um
dia, encontrou um leproso no caminho. Se fosse antes, teria fugido com nojo. Já
fizera isso muitas vezes. Desta vez, o encontro mostrou que estava diferente.
Foi embora com o leproso. Todo mundo na cidade tinha horror daqueles doentes.
Mas Francisco ficou até morando lá. Cuidava deles. Lavava-os, fazia curativos.
E ia descobrindo que não havia maior leproso do que ele: estava mudando e
precisava de uma mudança cada vez maior. Começou a ter uma ternura tão grande
pelos pobres doentes, que se sentiu encantado. Ele nunca amara ninguém daquele
jeito: nem sua mãe, nem seus companheiros de aventuras, nem as belas namoradas
que arranjara com tanta facilidade. Percebeu que só Deus podia ser aquele amor
que ele sentia pelos leprosos. E que só Deus podia ser aquele amor que ele
recebia dos leprosos. Quando tentou voltar para a cidade, jogaram pedras nele.
Aquele louco não podia andar mais com a gente que não tinha a terrível doença.
Mas dentro dele o que transbordava era uma doçura que nunca conseguiria contar
a ninguém.
Foi
andando sem rumo pelos campos que ele resolveu um dia entrar naquela igrejinha
em decadência. Lá dentro estava tudo escuro e sujo. Só um enorme crucifixo
parecia uma luz acesa. E seus olhos enormes enxergavam dentro da alma.
Enxergavam longe. O olhar do Cristo atravessava-o, espalhava-se pelo mundo,
chegava a todo homem, a toda mulher, a toda criança, a todo velhinho, a todos
os animais, a todas as coisas. Ah! Como Francisco entendia aquele olhar! Era o
olhar da misericórdia que ele sentira amando os leprosos, aquela misericórdia
que só podia ser um outro nome de Deus. Desta vez, a resposta saiu como um
grito, na forma da oração que ele vivia repetindo naqueles últimos tempos. E
que parecia ter sido feita justamente para essa hora: Senhor, iluminai as
trevas do meu coração. Dai-me uma fé direita, esperança certa e caridade
perfeita, juízo e conhecimento, Senhor, para que faça vosso santo e verdadeiro
mandamento! Ele ainda se sentia na escuridão mas alguma coisa começava a ficar
clara: precisava de uma luz cada vez maior e de que Deus lhe desse tudo que
fosse preciso para que ele fizesse tudo que Deus queria. Não era isso que
aquele Jesus estava fazendo na cruz: à vontade do Pai?
Começou
a ter duas coisas para fazer: a primeira era limpar e consertar aquela igreja
onde vivia Jesus tão amigo. A segunda era ficar horas e dias sem conta rezando
escondido na pequena cripta (o lugar onde antes enterravam os mortos), embaixo
do altar da capelinha. Pedro de Bernardone procurava-o como um louco. Aliás,
achava que o louco era ele. Entre outras coisas, Francisco tinha sumido com
muitas peças do pano, vendera o cavalo e ninguém sabia o que tinha feito com o
dinheiro. Achando que não podia mais recuperar o filho, Pedro queria pelo menos
o dinheiro. Como Francisco já vivia como uma espécie de religioso, a questão
foi para diante do bispo da cidade. Na frente do palácio, com muita gente
assistindo, o moço não teve dúvidas: deu o dinheiro de volta e deu toda a
roupa, até a que estava vestindo. O bispo teve que cobri-lo com sua capa.
Depois, lhe deram a pobre túnica de um servo para que ele não ficasse nu. Era
inverno, tudo estava coberto de neve, mas ele, no começo, nem sentiu frio. Saía
de lá de dentro outra oração forte. Agora ele se sentia mesmo como Jesus que
foi despido e despojado de tudo antes de ser pregado na cruz. E gritou para
todo mundo que, agora sim, podia rezar com toda verdade: Pai nosso que estais
no céu!
Fez
uma reforma grande na igreja de São Damião. Pedia pedras de esmola e chamava os
pobres da redondeza para ajudá-lo. Numa daquelas horas em que tinha certeza de
que Deus estava falando com ele, soube que aquela capelinha e a casa do lado
seriam um dia a morada de umas freiras muito santas. Cantava em francês, como
sempre que se sentia entusiasmado, e punha mãos à obra. Até pegou o jeito e fez
uma pequena reforma na igreja de São Pedro. Depois achou uma capelinha quase
abandonada, ainda mais fora da cidade do que a de são Damião. Gostou dela
porque era dedicada a Nossa Senhora dos Anjos. Gostou também do nome que lhe
davam: porciúncula, que quer dizer "pedacinho de terra". Começou a
reforma. Nesse tempo, tinha começado a viver e a se vestir como um eremita: com
uma roupa comprida, um cinturão de couro, sandálias nos pés e levando na mão um
pedaço de pau que cortou no mato. E se sentia cheio de Jesus. E não deixava de
orar com ele ao Pai. Continuava a pedir luz para saber o que Deus Queria dele.
Um dia, assistindo missa, umas palavras do evangelho chamaram a sua atenção. No
final, foi falar com o padre na sacristia. Pediu que lesse de novo aquele
trecho. Era assim: "Quando vocês forem pelo caminho, não levem bolsa, nem
calçado, nem duas túnicas..." Foi aí que a certeza bateu forte dentro
dele. Começou a pular de alegria e a gritar. Agora já sabia o que Deus queria
dele: que fosse anunciar o evangelho com os apóstolos, que nunca possuísse
nada, que estivesse sempre a caminho, como quem não tem casa em lugar nenhum...
Isso
mesmo, ele não era eremita (que eram pessoas que viviam sozinhas, rezando nos
matos e nas montanhas). Era como um apóstolo. Começou a andar descalço, sem
cinturão, com a roupa mais miserável que conseguiu fazer ele mesmo, dando-lhe a
forma de uma cruz com o capuz que tinha em cima. E não parou mais. Foi anunciar
que o mundo tinha que mudar, porque Jesus já tinha chegado. Foi quase um ano
depois que Bernardo, um antigo companheiro muito rico, foi falar com ele.
Queria ser como ele. Queria ser como ele. Queria andar como um pobre e queria
anunciar o Reino de Deus. No mesmo dia, apareceu outro rapaz, Pedro, que também
queria andar com ele. Francisco achou que eles tinham que ir consultar o
próprio Jesus, abrindo o seu Evangelho. Além da mesma passagem da outra vez:
Quando vocês forem pelo caminho... encontraram outras duas: Quem quiser vir
comigo, venda tudo que tem, dê aos pobres e depois me siga... e esta: Quem não
deixa pai, mãe, irmãos, irmãs, por amor de mim, não é digno de mim. Agora eles
já sabiam: tinham que ser como os apóstolos, seguir e anunciar Jesus sem ter
nada de próprio, e ser eles mesmo os irmãos uns dos outros, toda a família e
todo o bem uns dos outros nesta terra.
Daí
a alguns meses, já eram doze irmãos. Francisco achou que tinham que escrever o
que queriam da vida e ir pedir ao Papa que os abençoasse. Começaram uma alegre
viagem, a pé para Roma. Ele tinha a certeza de que, na terra, Jesus fala por
seus ministros e, acima de todos, pelo Papa. Isso aconteceu em 1209, quando
Francisco estava com vinte e sete anos. O Papa era o famoso e poderoso
Inocêncio III. Foi iluminado pelo alto para ver naqueles pobrezinhos uns homens
de Deus. Aprovou-os. Enviou-os como missionários. Eles voltaram todos felizes,
e o seu número começou a crescer. Anunciavam Jesus por toda parte. Francisco
chegou até a falar como pregador na própria catedral. Homens e mulheres ficavam
tocados por suas palavras e mais ainda por seu exemplo simples e pobre. Queriam
ser como ele e seus companheiros.
Uns
dois anos depois, Francisco resolveu procurar Clara. Era uma moça rica que
morava numa casa vizinha da catedral, mas todos sabiam que ela era santa.
Francisco deve ter tido alguma iluminação de que era com ela que o Senhor
queria começar o grupo de mulheres que ia viver em São Damião. Não demorou
muito para a moça vender tudo que tinha e entrar para a nova família. Clara foi
um dos maiores acontecimentos da vida de Francisco. E do mundo. Transpirava uma
vitalidade enorme, era toda clareza e seu rosto refletia o de Jesus como um
espelho. Doze anos mais nova - ela tinha 18 e Francisco 30 - foi mestra e
companheira, além de discípula nos seus caminhos de viver Jesus Cristo.
Todos
os anos, os irmãos (todo mundo já os chamava de frades/irmãos) se reuniam no
tempo de Pentecostes para descobrir juntos o que mais Deus ainda queira deles.
Espalhavam-se pelo mundo. Eram cada vez mais numerosos. Sem contar as Irmãs de
Clara e a multidão de homens e de mulheres que, mesmo continuando a viver em suas
casas, seguiam a mesma maneira de viver o Evangelho. Todos eles eram
penitentes, porque tinham descoberto como Jesus faz falta neste mundo e não
mediam sacrifícios para tê-lo consigo. Essa palavra "penitentes"
tinha sido usada por João Batista quando veio avisar que Jesus estava chegando.
Ele dizia que as pessoas deviam fazer penitência para receber Jesus e a
situação nova que ele traria. Através dos séculos, muita gente achou que fazer
penitência era fazer sacrifícios: deixar de comer, passar frio e até bater em
si mesmo a ponto de tirar sangue... Mas Francisco e seus companheiros foram ao
miolo da questão: ser penitente é perceber que Jesus está fazendo falta e estar
sempre preparado para recebê-lo.
Além
de percorrer toda a região, os irmãos começaram a se espalhar pela Itália e
pelos outros países da Europa. Mas, naquele tempo, o que não era a Europa,
cristã, era o mundo dos sarracenos, que seguiam Maomé. E os cristãos estavam em
guerra com eles, porque eles estavam ocupando a Terra Santa, em que Jesus
viveu. Francisco achava que os sarracenos também eram filhos de Deus e irmãos
de todos nós. Por isso, em vez de guerra, queria ir falar com eles sobre Jesus
Cristo. Tentou várias vezes. Na primeira, chegou até o norte da Espanha, naquele
tempo quase inteira na mão dos sarracenos. Mas ficou doente e teve que voltar.
Tentou pegar um navio em Ancona, para ir para a Palestina. A viagem não deu
certo. No fim, acabou conseguindo: foi para o Egito em 1219. Encontrou os
cruzados, que eram os soldados cristãos. Tentou convencê-los a evitar a guerra.
Não conseguiu nada. Mas atravessou as linhas de combate e foi falar com o
sultão, que era o rei dos sarracenos. Conversaram bastante. Francisco deixou-os
muito impressionados, e também os ouviu. Os sarracenos deixaram-no voltar como
um amigo. E muito edificado, por ver como eles rezavam, mesmo na rua, várias
vezes por dia.
Mas,
quando voltou do Egito, ele, que já era fraco de saúde, estava pior. Veio até
com uma forte infecção nos olhos, que o faria sofrer bastante. Mas estava
enxergando cada vez melhor, como ele dizia, com os "olhos do
espírito". Isso queria dizer que ele adquiriu e foi melhorando uma
capacidade de enxergar a presença de Deus em todas as coisas. Usando uma comparação
da Bíblia, ele dizia que, com os olhos da carne (isto é, com a nossa simples
força de humanos), nós só vemos o que todo mundo vê: uma planta é uma planta, e
pronto. Mas, com os olhos do espírito (isto é, com uma iluminação diferente,
que só Deus dá), a gente vê Deus em tudo e é capaz, por exemplo, de perceber
como a planta manifesta e canta a glória de Deus, que a fez com carinho para
nós. Francisco também gostava muito de passar longos tempos em oração. Ele
escolhia alguma montanha afastada, alguma caverna, alguma ilha, e lá ficava
quarenta dias de cada vez, na companhia de uns poucos irmãos. Ficava tão
entregue a Deus, com Jesus Cristo, que quase nem comia.
Numa
dessas vezes, quando ele já tinha quarenta e um anos, estava sozinho com o seu
mais fel companheiro, Frei Leão, em um lugar chamado Monte Alverne. Nesse
lugar, sua oração foi tão profunda, ele estava tão unido a Jesus Cristo, que
até viu uma enorme luz descendo do céu. Quando chegou mais perto, percebeu que
era um serafim, isto é, um anjo com seis asas, pegando fogo. Mais perto ainda,
ele viu que o serafim era o próprio Jesus Crucificado. Nessa ocasião, recebeu
os sinais da paixão de Jesus: ficou com as chagas marcadas no peito, nas mãos e
nos pés. Foi para percebermos quanto Francisco se tornou um outro Jesus Cristo.
Todos nós, para sermos criaturas felizes e realizadas, também temos que ser
outros Cristos. Não precisamos ter as suas feridas nas mãos e nos pés, mas
precisamos ter a sua visão das coisas e o seu imenso coração para amar a todos.
Em
1219, um dos companheiros de Francisco, que tinha sido encarregado dos irmãos
que viviam em toda uma região e que, por isso, era chamado pelos outros de
Irmão Ministro, escreveu a Francisco pedindo dispensa do seu cargo, porque
tinha muitos problemas dos frades e dos outros para resolver e estava sobrando
pouco tempo para rezar. Ele dizia que tinha entrado no movimento franciscano
para rezar. Francisco respondeu com uma carta muito bonita. Ele explica que a
única coisa importante é a misericórdia, isto é: Deus ama, ama sem limites, a
todas as pessoas e a todas as coisas. O importante de "rezar" é estar
com Deus. E nós estamos com Deus sempre que estamos vivendo o amor. Por isso,
Francisco explicava que o Irmão Ministro devia ver como uma graça de Deus todos
os problemas que tivesse para resolver. Porque era uma oportunidade para ele
viver a misericórdia, que é o amor de Deus. E, quanto mais a gente vive a
misericórdia, vive Deus e mais vai realizando a imagem de Jesus Cristo em nós.
Por isso, Francisco dizia que o ministro não só tinha que ser sempre
misericordioso com quem errasse, mas até tinha que ir oferecer misericórdia.
Dizia que qualquer um já devia ver a misericórdia só de olhar para os olhos
dele.
Foi
devagar que Francisco e seus irmãos foram descobrindo e estabelecendo como
devia ser a sua maneira de viver segundo o evangelho de Jesus. Todos os anos,
eles se reuniam por ocasião do dia de Pentecostes, para festejar o Espírito
Santo, e depois ficavam vários dias juntos, rezando e se alegrando como irmãos.
No fim, Francisco resumia tudo que eles tinham conversado sobre a sua nova
vida, e alguns irmãos punham isso por escrito. Foi assim que se fez a chamada
"Regra franciscana": com a ajuda de todos, porque Francisco dizia que
cada um deles tinha vindo para o grupo porque tinha sido trazido pelo Espírito
Santo, que mora dentro de cada um. Quando desejavam saber o que Deus queria
deles, ouviam com atenção cada um dos irmãos.
Um
dos pensamentos mais interessantes de Francisco é a maneira de explicar como
estamos unidos a Jesus Cristo. Aproveitando o ensino do Evangelho, diz que nós
somos irmãos de Jesus Cristo, esposos de Jesus Cristo e até mães de Jesus
Cristo. Em primeiro lugar, ele ensinava que todos os que, como Jesus, aprendem
a fazer sempre a vontade de Deus Pai, são verdadeiros irmãos de Jesus Cristo.
Era justamente por isso que chamava seus companheiros de companheiras de Irmãos
e Irmãs. Mas a ideia mais original era dizer que, como Nossa Senhora, devemos
ser "mães" de Jesus Cristo. Porque Jesus tem que nascer e crescer em
todas as pessoas e nós podemos e devemos colaborar dando o bom exemplo, dizendo
boas palavras, ajudando cada pessoa a ser um outro Jesus Cristo. A Palavra de
Deus entra em nós e transforma o mundo transformando nossas vidas.
Jesus
Pobre
Uma
das coisas que mais marcou a vida de Francisco foi observar que Deus, que é o
dono de tudo, quando veio ao mundo não se apresentou como um poderoso mas como
um pobrezinho. Jesus nasceu como o filho de um carpinteiro, morava numa
cidadezinha do interior, chamada Nazaré, cresceu trabalhando como operário e
sempre andou no meio das pessoas que todo mundo desprezava. Francisco, gostava
de estar com os leprosos, entendi isso muito bem. Para ele, essa era uma das
maiores lições do Filho de Deus no mundo. Quando a gente começa a dizer: Isto é
meu! Não pára e quer possuir cada vez mais. Quando mais coisas a gente tem,
mais a gente acha que pode mandar nos outros. E, quanto mais a gente manda nos
outros, mais a gente se sente importante e acha que todo mundo está nesta terra
para nos admirar e louvar.
É
claro que essa situação em que vive tanta gente, ainda hoje em nosso mundo: não
tem casa para morar, nem roupa suficiente, nem a comida que precisava, nem pode
cuidar da saúde ou ir à escola porque é pobre demais. Essa situação é injusta e
não pode continuar. Isso tem que nos questionar e não pode nos deixar
sossegados enquanto não estivermos fazendo alguma coisa para que a situação
melhore. Francisco, como Jesus, era rico e se fez pobre. Não precisava ser
pobre, mas quis ser, para ir ao encontro dos filhos de Deus por quem Jesus saiu
do céu. Mas é claro que essa pobreza voluntária também questiona. Se a maior
parte das pessoas o que quer é ser cada vez mais rica, como é que alguém vai
ser pobre de propósito?
Francisco
de Assis ficou muito marcado por aquelas suas duas experiências iniciais: a
vida com os leprosos e o encontro com o Cristo de São Damião. Depois disso, ele
sempre enxergou Jesus Cristo em todos os pobres e sofredores, em todos os
doentes e injustiçados. Da mesma forma, quando estava diante de Jesus em sua
oração, também enxergava sempre todos os crucificados deste mundo, porque
sentia muito vivamente que Jesus estava na cruz porque amava muito a todos os
homens e mulheres e via que eles ainda não estavam vivendo plenamente o amor de
Deus. Por isso, em toda a sua vida, Francisco foi se entregando ao Cristo
crucificado e aos seus filhos crucificados. Ele rezava com o corpo e com a
alma, ele cuidava dos outros com o corpo e com a alma. Ele achava que não podia
fechar aqueles olhos de misericórdia imensamente abertos que vira no
Crucificado de São Damião, e ele carregava esses olhos dentro dele. O movimento
de Francisco, que se transformaria na Família Franciscana, cresceu depressa e
bastante, espalhando-se por todo o mundo, justamente porque eles não tinham
propriedades e trabalhavam em qualquer serviço, mesmo os mais difíceis. Por
isso tiveram sempre muita facilidade de ir para onde fosse preciso; não estavam
presos a nada. De fato, eles eram apóstolos com os primeiros discípulos que
Jesus mandou pelo mundo: sem carregar bagagens, dispostos a ficar em qualquer
lugar e a fazer qualquer coisa. Porque eram irmãos a serviço de todos os irmãos
do mundo.
Mas
a transformação de Francisco foi sendo trabalhada por todos os lados. Ele não
via só os sinais de dor, via também os sinais de vida. Como Jesus Cristo é toda
a manifestação, toda a presença do Deus que é amor, Francisco ensinava todo
mundo a ver que todas as criaturas e, depois dos seres humanos, principalmente
os animais, são também uma imagem de Jesus Cristo. Muita gente até hoje vê
Francisco como um poeta. Mas ele é mesmo um santo, que encontra Jesus Cristo em
tudo.
Por
causa dessa maneira de entender as coisas, Por esse seu jeito de sempre estar
enxergando a presença do amor de Deus em tudo e entendendo que o amor de Deus
presente é Jesus, Francisco tinha um amor enorme também pelas plantas e umas
idéias muito originais. Ele dizia que os frades, quando fossem buscar lenha no
mato, nunca deviam cortar uma árvore inteira. No máximo, podiam cortar alguns
galhos, deixando que a árvore brotasse de novo. A vida da árvore era um louvor
de Deus, como Jesus Cristo. Também não deixava que os frades arrancassem todos
os matinhos na horta. Dizia que mesmo que as plantas não produzissem frutas ou
folhas para a gente comer, também louvavam a Deus com suas formas tão variadas,
bonitas, especiais, e mesmo que suas flores não fossem as mais bonitas.
Quando
Francisco começou a buscar os caminhos de oração, foi excluído de casa por seu
pai. Quando começou a andar com os leprosos, foi excluído da própria cidade por
seus cidadãos. Para dizer a verdade, ele mesmo se excluiu daquela sociedade que
só queria ganhar dinheiro. Essa experiência foi muito importante para ele
entender o Filho de Deus, que também veio como um pobre e um excluído e terminou
crucificado. Não é a mesma coisa a gente pensar em Deus quando todo mundo está
de acordo com a gente e quando a gente perde todos os apoios humanos. Mas a
pior exclusão foi no fim. Quando o seu movimento, a Ordem dos Frades Menores,
começou a ter milhares de frades por todo o mundo, os homens mais sábios e
experimentados que estavam dentro dela quiseram pôr um pouco mais de ordem em
todas as coisas. Como Francisco era um homem simples, que não conseguiria
acreditar em grandes organizações, foi ficando de lado. Nos últimos anos, teve
que colocar outro irmão para chefiar o movimento no seu lugar. Muitos nem o
conheciam mais.
Nessas
circunstâncias, Francisco explicou, a Frei Leão, o que achava que era a
perfeita alegria. Disse que uma alegria de verdade não era se viessem dizer que
os frades tinham se espalhado pelo mundo inteiro e tinham convertido todas as
pessoas. Que pelo mundo inteiro e tinham convertido todas as pessoas. Que uma
verdadeira alegria também não era se viessem dizer que em todos os países
estavam entrando pessoas importantes na Ordem. Ele achava que a alegria
perfeita do seguidor de Jesus Cristo só aconteceria quando ele fosse ignorando,
desprezando, e até mesmo apanhasse para ir embora e não perdesse a cabeça. Até
ficasse feliz porque o Senhor Jesus Cristo sofreu muito mais do que tudo isso
para nos ajudar. Ele pensava em uma alegria tão lá de dentro que nada pode
acabar com ela: a alegria de quem percebe que está conseguindo desenvolver em
si mesmo a imagem de Deus, que é Jesus Cristo.
O
maior monumento de São Francisco de Assis não está em nenhuma construção. Está
na vida dos seus filhos e filhas e na fraternidade que ele começou. Desde
aquele tempo, os franciscanos e franciscanas são milhares em todos os países do
mundo e transformaram a sociedade, apresentando uma maneira alegre e muito
simples de viver o Evangelho. Os frades menores, da primeira ordem de São
Francisco, formam três grandes grupos, com os nomes de franciscanos, conventuais
e capuchinhos. As Irmãs de Santa Clara, que formaram a segunda ordem, também
têm seus mosteiros e diversos grupos pelo mundo inteiro, mas hoje estão muito
enriquecidas pela presença de numerosas congregações franciscanas femininas que
foram fundadas desde o século XIII até o século XX. Essas Irmãs franciscanas
pertencem à Terceira Ordem Regular, que também conta com diversos grupos de
Irmãos. Foi um dos grandes ramos por onde cresceu a primitiva Ordem Terceira
dos homens e mulheres leigos e casados, que ficavam em suas casas. Mas também
este último grupo cresceu e se tornou o mais numeroso em todo o mundo. Hoje em
dia, tem o nome de Ordem Franciscana Secular. Só que os amigos e seguidores de
Francisco de Assis não tem conta. Mesmo fora da Igreja Católica ele tem muitos
admiradores e seguidores.
Os Frades Capuchinhos
Um
ideal tão elevado como o de São Francisco precisou ser adaptado aos novos
tempos e lugares. Os franciscanos foram adotando as formas dos outros
institutos religiosos. Quando algum grupo percebia que, com isso podia estar
sendo perdido o ideal de São Francisco, principalmente o da pobreza, começava
um movimento novo de volta às origens. Foi o fermento de uma vitalidade muito
grande para a Ordem. O grupo dos frades menores capuchinhos surgiu no século
XVI, liderado por Frei Mateus de Báscio, na província italiana das Marcas. O
nome veio por usarem um capuz comprido, como achavam que tinha sido o do tempo
de São Francisco.O papa Clemente VII deu a primeira autorização para que
pudessem existir. Quando foram perseguidos, uma sobrinha do Papa, Catarina
Cibo, lembrou ao pontífice que os capuchinhos tinham sido beneméritos atendendo
com verdadeiro heroísmo os doentes de uma peste que houve em 1523 em sua cidade
de Camerino. Em 1525 juntaram-se a Frei Mateus de Báscio os irmãos Frei
Ludovico e Frei Rafael de Fossombrone.
Ficaram
um tempo abrigados com os camaldulenses de Massácio. Depois, foram acolhidos
pelo ministro geral dos franciscanos conventuais. O Papa Clemente VII aprovou
os Capuchinhos pela bula "Religionis Zelus", de 3 de julho de 1528. A
bula autorizava a levar vida eremítica, seguindo a Regra de São Francisco, a
usar barba e o hábito com capuz comprido e a pregar ao povo. Em abril de 1529,
em Albacina, um grupo de doze religiosos elegeu os superiores e redigiu as
Constituições. A Ordem dos Frades Menores Capuchinhos cresceu muito e, hoje,
está presente em todos os continentes, em cerca de noventa países. No mundo
inteiro, são mais de dez mil frades.
Os
primeiros capuchinhos chegaram ao Brasil ainda no século XVII e eram franceses.
Estabeleceram-se no Maranhão. Posteriormente vieram outros, que se
estabeleceram na Bahia e no Rio de Janeiro. Até o fim do Império, tinham três
conventos (Recife, Salvador e Rio) de onde se irradiavam por todo o país, em
missões que ajudaram a formar a Igreja no Brasil. Foram fundadores de muitas
cidades. Mas o governo colonial e o governo imperial não permitiram que se
abrissem noviciados para brasileiros. Todos os frades vinham da Europa. No
começo, eram franceses; depois, italianos de diversas províncias. Uma exceção
foram os frades franceses que dirigiram o Seminário Diocesano de São Paulo de
1856 até um pouco antes da proclamação da República. Em 1889, chegaram de São
Paulo os capuchinhos de Trento, na Itália, com a missão de começarem um noviciado
para dos brasileiros. Quase ninguém acreditou que isso ia dar certo, mas os
frades foram perseverantes e colheram os seus frutos. Nessa época, diversas
regiões do Brasil começaram a ser confiadas a Províncias da Europa. Pouco
depois dos trentinos em São Paulo, chegaram frades franceses no Rio Grande do
Sul, de Veneza no Paraná e Santa Catarina. Os de Milão ficaram com Ceará,
Piauí, Maranhão e Pará. Frades das Marcas vieram para a Bahia e Sergipe. Os da
Úmbria vieram para o Amazonas; de Siracusa para o Rio de Janeiro, Espírito
Santo e parte de Minas Gerais. Minas Gerais também acolheu capuchinhos de
Messina. Mais tarde vieram de Nápoles para o sul da Bahia. Os gaúchos começaram
a trabalhar em Mato Grosso e Goiás. Quando falamos em Província, pensamos em um
grupo grande de frades que moram e atuam em determinada região, vivendo em
diversas fraternidades e com capacidade para manter-se com vocações locais.
Quando falamos em Vice-províncias, pensamos em um grupo que está ficando pronto
para ser Província. Elas dependem de uma outra Província. Grupos menores, que
ainda estão começando a se estabelecer podem ser chamados de Missões ou
Delegações. Com o tempo, foram tornando-se independentes as Províncias do Rio
Grande do Sul, São Paulo, Paraná com Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de
Janeiro com o Espírito Santo, Centro Oeste com o Distrito Federal, Goiás e Mato
Grosso do Sul, Bahia com Sergipe, Nordeste, reunindo Pernambuco, Alagoas,
Paraíba e Rio Grande do Norte, Ceará com Piauí, Maranhão com Pará e Amapá. Há uma
vice-província no Amazonas e, em Rondônia e Mato Grosso, uma missão dos frades
do Rio Grande do Sul. Os franciscanos capuchinhos cresceram muito em todo o
Brasil, onde já contam com mais de mil e duzentos frades, respondendo por
missões, paróquias, pregações e outros trabalhos.
A Província do Brasil Central
A
Província Capuchinha do Brasil Central foi oficialmente fundada aos 12 de
agosto de 1956, por Decreto do Ministro Geral Frei Benigno de Sant´Ilário
Milanese. E foi proclamada Província Regular da Ordem aos 18 de fevereiro de
1982, por Decreto do Ministro Geral Frei Pascoal Rywalski. Desde sua
proclamação passou a denominar-se Província do Brasil Central e tem como
Padroeira Nossa Senhora de Fátima. Seu território abrange os estados de Goiás,
Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Tocantins e sua sede está localizada em
Brasília, no Santuário Nossa de Fátima na Asa Sul.
Na
realidade, os capuchinhos, como todos os franciscanos, não têm um trabalho
específico: prestam ajuda à Igreja em qualquer setor necessário. De fato, não
foram fundados para determinados trabalhos mas darem um testemunho,
principalmente junto aos mais pobres e excluídos. Por isso, a Ordem tem frades
que se destacaram como missionários, pregadores, professores, cientistas ou
simples trabalhadores. Muitos frades tornaram-se santos canonizados, contando,
por exemplo, com um Doutor da Igreja, como São Lourenço de Brindes, um porteiro
de convento , como São Conrado de Parzaham, um missionário mártir, como São Fidélis
de Sigmaringa, um místico com as chagas de Jesus, como São Pio de Pietralcina.
São Francisco aceitava na Ordem tanto nobres quanto plebeus, tanto militares
como professores, ou trabalhadores sem nenhuma qualificação. Alguns frades
também podem tornar-se sacerdotes. Às vezes falamos de frades e de padres.
Todos os capuchinhos são frades, palavra que quer dizer Irmãos. Padres, em
geral, são os de uma diocese ou de uma ordem ou congregação religiosa que
receberam o Sacramento da Ordem e celebram Missas, administram Sacramentos.
Alguns frades, ordenados sacerdotes, também são padres.
Agora
que você já sabe bastante bem o que é um frade capuchinho, chegou a hora de
perguntar diretamente a você mesmo: O que Deus quer de mim? Por que me pôs nas
mãos este livrinho? Você já não é mais uma criança, e deve ter percebido como o
mundo em que nós vivemos é, ao mesmo tempo, maravilhoso e cheio de problemas.
Você também já deve ter consciência de tem que encontrar o seu lugar no mundo,
não só para aproveitar tudo que ele pode apresentar para você se realizar, mas
também para dar a sua contribuição, uma contribuição que mais ninguém vai fazer
no seu lugar.
É
fácil a agente perceber que está em um mundo cheio de divisões: Enquanto alguns
estão na rua, porque nem têm onde morar, outros têm sobra de espaço e de
recursos em amplas mansões. Enquanto um grande número nem sabe ler e escrever,
porque não tem possibilidade de ir à escola, outros estão entusiasmados prestando
os seus vestibulares, tirando diplomas universitários ou até indo estudar em
outros países. Enquanto alguns são bem recebidos em qualquer lugar, outros são
rejeitados ou humilhados por causa de sua cor, de sua raça, da origem de seus
pais, ou da sua falta de dinheiro. Você deve ter sentido que temos divisões
entre os homens e mulheres que, muitas vezes, têm de passar por riscos e
humilhações, apesar de serem tão humanas quanto os homens. É claro que você,
que não vive com a cabeça nas nuvens, já deve ter perguntado muitas vezes: Pôr
que isso, meu Deus? Nós não somos todos irmãos e vossos filhos e filhas? Depois
de já ter lido tudo o que já vimos neste livrinho, acho que você também terá
vontade de dar a vida para que os pobres vivam sua dignidade de filhos de Deus.
O próprio Deus cuida disso, como sempre o fez. Mas Ele está precisando de você
para ajudá-lo a levar o seu bem a muitas pessoas de quem Ele tem que cuidar.
Uma
das primeiras coisas que você vai ter de aprender cultivar é a sua
espiritualidade. Isto é, você precisa lembrar que, embora sejamos sempre
limitads pelo nosso corpo ao lugar e ao tempo em que vivemos, nós também somos
espírito, um espírito que se abre para o mundo inteiro, para a história. Como é
que você usa o seu espírito? Mesmo sendo jovem, você certamente já começou a
usar o seu espírito e já tem uma visão ampla das coisas, até da vida e da
morte. Pois é importante você se lembrar de que o seu espírito é guiado pelo
Espírito de Deus, que nunca força nada, mas está sempre presente para sugerir a
você os melhores caminhos. Ter uma espiritualidade é ir formando, pouco a
pouco, uma maneira própria de ver todo o mundo, de colocar cada pessoa e cada
coisa dentro de uma visão que você partilha com Deus. Em todos os povos e em
todas as religiões, há muitas propostas de espiritualidade, que qualquer um de
nós pode aproveitar. Estamos propondo a você a espiritualidade do Evangelho.
Mas, como os frades capuchinhos, você pode escolher o caminho bonito da
espiritualidade franciscana, que Deus deu à Igreja através de São Francisco e
Santa Clara de Assis, e que já santificou tanta gente nestes últimos oitocentos
anos. Você também pode ser mais um como eles. É você mesmo quem vai decidir
como quer que a sua espiritualidade seja desenvolvida através de toda a sua
vida. Assim você vai ter uma visão cada vez mais ampla do mundo e vai poder ser
cada vez mais feliz, sabendo que vai estar sempre trilhando um caminho novo.
Quem
vive uma espiritualidade, está em um relacionamento contínuo com Deus. Isso é
viver uma vida de oração. É claro que você aprendeu a rezar desde muito
pequeno, e sabe acompanhar as pessoas, quando rezam, oferecer o seu dia de
manhã, agradecer antes de dormir por tudo que viveu, e já deve ter dito muitas
coisas bem suas, muito do seu coração e usando o seu jeito de falar para esse
Deus que é Amor. Seja qual for o sentido que você quiser dar sua vida, a oração
sempre vai ser a coisa mais importante dentro dela, porque vai expressar quem
você é diante de Deus. Se sentir que Deus está querendo que você seja um frade,
significa que está abrindo a você um caminho especial de oração. Isso não quer
dizer passar o dia inteiro rezando, sem fazer outras coisas. Jesus disse que
não adianta dizer "Senhor, Senhor!" e não fazer a vontade de Deus.
Uma pessoa orante de verdade está rezando até quando está dormindo, porque todo
o sentido de sua vida está em Deus. Mas tem também a alegria de conversar com
Ele a sós e junto dos outros frades, porque Deus é o pai e a mãe de nossa
família que nunca mais vai ter fim. Se você for frade, é para ser dos melhores.
Você vai ser um homem de oração profunda, que vai marcar sua vida e atividades.
Viver a oração é ter uma consciência cada vez maior de que Deus está conosco, acompanha
e guia os nossos passos, ajuda-nos a fazer tudo com muita consciência e com
muita alegria.
Conhecendo
um pouco melhor São Francisco e Santa Clara, você vai ver que eles não puderam frequentar
escolas como as do nosso tempo, mas foram estudiosos profundos pelo que
conheceram de Bíblia, pelo que aprenderam com os que, já no seu tempo, sabiam
fazer da teologia (o conhecimento de Deus) uma proposta de vida. Também ficará
sabendo que a família franciscana sempre teve, desde o começo, frades como
Santo Antônio e São Boaventura, que vieram a ser reconhecidos como mestres pela
Igreja. Os frades, mesmo estando no meio dos mais pobres, têm que apresentar
com segurança a Palavra de Deus e a direção que ela nos dá no mundo difícil em
que vivemos. Hoje em dia, em nosso país, cada vez mais pessoas estudam e
percebem como precisam estudar para poder estar à altura dos desafios sempre
novos que são apresentados tanto no mundo do trabalho como no mundo do
relacionamento com as pessoas. Se você se tornar um frade capuchinho, vai
perceber que, para estar melhor a serviço dos outros, terá que se preparar com
seriedade. No mundo de hoje, um frade, como todas as outras pessoas, precisa
estar sempre lendo coisas novas, não só para não ficar para trás: também para
ajudar a abrir caminhos novos. Quando Deus nos deu a vida, deu-nos também a
responsabilidade de cuidar de nosso corpo e de nossa alma, do nosso espírito e
da nossa cultura.
Você
não veio a este mundo por acaso. Também não veio por acaso a este país e a este
tempo. Foi Deus quem colocou você aqui, para aproveitar bem todas as
oportunidades mas também para ajudar as outras pessoas que parecem ter tido
menos oportunidades ou parecem não saber como aproveitá-las. Todos nós temos
uma responsabilidade diante das injustiças que se cometem cada dia contra as
pessoas e mesmo contra todas as outras criaturas. E é incrível o que cada um de
nós pode fazer, mesmo sem ser uma pessoa importante, dessas que ocupam altos
cargos. Mas se você for um frade capuchinho, vai ver como a espiritualidade
cultivada pela grande família dos seguidores de São Francisco e de Santa Clara
de Assis tem um caminho em que, em conjunto, podemos dar uma contribuição
enorme para que o mundo em que vivemos seja cada vez mais um mundo de justiça e
de paz para as pessoas. Você vai ver como Deus está atento a todos esses
problemas e age no mundo através da gente.
Você
já pensou um pouquinho sobre quem é você mesmo? Quando você era pequenino,
diziam: é o filhinho de fulano e fulana. Durante muito tempo, você foi
conhecido o filho de seu pai, o irmão de algum de seus irmãos ou irmãs. Pode
ser que depois tenham passado a dizer o seu nome, mas explicando: É aquele que
estudo em tal colégio, que está em tal classe. Ou: é aquele que trabalha em tal
lugar. Você é conhecido (e você mesmo se apresenta) como membro de uma família,
participante de um grupo ou de uma paróquia, por exemplo.Ou como aluno de tal
professor ou professora. Já foi até namorado desta ou daquela moça. Mas, quem é
você de verdade? Você sabe que é tudo isso, mas não é só isso. Vou perguntar de
outro jeito: Quando Deus fez você, qual teria sido o sonho dele? Será que o
sonho de Deus é só para a gente fazer isto ou aquilo nesta vida, para a gente
ser o filho, o irmão, o marido, o pai de alguém? Que será que Deus sonha a seu
respeito para sempre? Será que tudo que dizem de você é verdadeiro? Será que
tudo que você pensa sobre você mesmo é verdadeiro? Será que tudo que você já
sonhou fazer ou ser é verdadeiro? Pois olhe. Você vai ficar certo de uma coisa:
você só vai descobrir, pouco a pouco, tudo que você é e pode ser na medida em
que você se abrir para Deus. Para você se abrir para Deus, não precisa ser
frade, mas isso também pode ajudar. E muito.
Escrevemos
estes textos para você. Para você que é jovem e está decidindo os rumos da sua
vida. Achamos que, de qualquer jeito, eles vão ser bem útil para você. Mas
também fizemos uma proposta: de você ser um frade franciscano capuchinho.
Também é uma proposta importante. Pode estar aí o sentido de sua vida. Mas
também pode ser que, mesmo levando muito a sério, diante de Deus, a vida que
Ele lhe deu, você ache que sua vocação não é para ser frade capuchinho. Isso
você tem que resolver diante de Deus. Até com a ajuda e o conselho de outras
pessoas, mas a decisão é sua. Em todo caso, queremos deixar claro que, se você
se decidir a ser um frade capuchinho, o compromisso não vai ser de uma hora
para outra. Os frades vão ajudá-lo a ir dando pouco a pouco os passos que
parecerem oportunos, até que você possa realmente dizer a Deus e a todo mundo
que você decidiu ser um frade franciscano capuchinho. Para sempre.
Doze primeiros
Missionários Capuchinhos a chegarem no Brasil Central
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