Texto 2: Experiência de Deus - O Projeto de Deus
Deus e o Projeto
da implantação de seu Reino
Neste segundo texto sobre a experiência de
Deus iremos perceber um dos grandes feitos da Trindade que pode expressar o
sonho de Deus, o Reino de paz, justiça e fraternidade. Este sonho de Deus vai
dar sentido à nossa busca vocacional, pois foi esse o itinerário vocacional de Jesus
Cristo, através da vontade do Pai, com acompanhamento do Espírito. A
compreensão do Reino passa pelo entendimento do itinerário de Jesus, do batismo
à cruz e ressurreição: o batismo marca a vida pública de Jesus no que diz
respeito ao anúncio do Reino de Deus. Ao discernir sobre sua missão Jesus
anuncia publicamente seu projeto, que é fazer a vontade do Pai, a implantação
do de seu Reino (Lc 4,14-21). Para tal feito Jesus convida pessoas para
ajudá-lo (Lc 5,1-12.10,1-16). Mesmo sendo o Mestre, Jesus não quer ser um
missionário isolado, ter mérito sozinho, ao contrário, constitui comunidade, constitui
grupos para ajudar na messe e envia sempre de dois em dois.
O Reino de Deus
O caminho que escolho para
compreendermos o sentido vocacional do seguimento, através do Reino de Deus,
começa no Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus. No capítulo três Mateus
sinaliza a chegada do Reino com a preparação de João Batista (Mt 3,1-17). João
é uma figura que nos interpela sobre o sentido de nossa existência, em relação a
nosso papel diante do Projeto de Deus. Preparar o caminho para Jesus é se
colocar a serviço como servo, que ajuda indo à frente. Essa função nos faz corresponsáveis
na implantação do Reino, não omissos e nem construtores onipotentes, que nos
bastamos a nós mesmos, mas partícipes do Projeto de Deus que é a construção de
seu Reino.
Além desse testemunho de João
Batista, temos muitos outros testemunhos de como contribuir no caminho que
ajuda na edificação do Reino. O evangelista Marcos coloca, no capítulo dez,
algumas características do Reino, como a simplicidade de quem se propõe a
seguir o caminho (Mc 10,13-16); a partilha como elemento fundamental dos que
constituem comunidade e convivem como testemunhas D’aquele que chamou e enviou (Mc
10,1731) e o serviço disponível e empreendedor do missionário que quer ser
participante nessa empreitada (Mc 10,32-45).
No Evangelho segundo João são mencionados
sete sinais do Reino, do capítulo dois ao onze. Esses sinais são apresentados
de forma que nos ajuda bastante em nosso discernimento quanto ao seguimento,
pois revela como os feitos de Jesus apontam seu itinerário e como se dá o Reino
de Deus. Cada sinal marca o quanto Jesus vai aprendendo e ensinando na
edificação do Projeto da Trindade.
Esta construção não é fácil e nem
sempre encontra apoio. Em Lucas aparecem as incompreensões e questionamentos
sobre o Reino por parte dos fariseus (Lc 17,20-21). Jesus é posto à prova o
tempo todo, mas não abandona o Projeto e nem desiste de expressar as características
dessa proposta, a saber: dom e partilha (Lc 18).
Esta missão não é única de Jesus, mas é
ampliada para os que querem dar sentido à sua vida doando-a. No capitulo dez é
dito a quem é atribuída a missão de anunciar o Reino (Lc 10 1-12) e quem são os
destinatários/as: O Reino deve ser anunciado a todos/as (Lc 14,15-24).
Opção pelo Reino
Para anunciar o Reino é preciso assumir
esta proposta, fazer opção, escolher. Escolha que diz respeito à liberdade e à iniciativa
de quem chama, no caso, Deus, e aos que são chamados/as. Jesus chama os seus,
provocando os/as discípulos/as para que passem de um encantamento a uma decisão
do mestre (Mc 2,14; 3,13). A partir da escuta do chamado, que se dá de diversas
formas (oração, convivência na família, comunidade...), começam os
questionamentos sobre o sentido para a vida diante da proposta revolucionária do
mestre, que sejamos seus discípulos/as na construção do Reino (Mt 13, 52).
A escolha
para ser discípulo/a exige
discernimento e acompanhamento para compreender o significado e o objetivo desta
busca que não visa mais o status, mas
sim uma causa, a causa do Evangelho
(Mc 10,29). Ser discípulo/a para o Reino é dar
uma resposta irrevogável e renunciar a vínculos anteriores é exigência
fundamental (Mt 8, 19-22 10,37; 19, 16-22). É reconhecer e confessar o mestre, é testemunho de amor incondicional
(Mc 8,34). É assumir o mesmo Projeto de
Jesus (Mc 10,1-16), proclamando
sua irrupção, torna-se missão prioritária. É comungar a vida e o destino do mestre (Mc 10,39; 12, 9-11; Mt 10,
18-20) é igualmente condição inegociável; Até
a cruz (Lc 9, 23-24; 14, 27; Mt 10,38; 16,24; Mc 8,34).
Observemos algumas palavras, que ajudaram os discípulos no seguimento e que podem
ajudar você que está discernindo sua vocação, à luz do caminho que Jesus
inspirou. São elas: seguimento, escolha,
resposta, reconhecimento e assumir; ajudam a compreender como é ser
discípulo de Jesus. Seguir é passar da
compreensão de imitação para ir juntos no mesmo caminho, sem preocupação com a
distância que separa mestre e discípulo. Este termo é encontrado no Evangelho em
duas formas:
a)
Jesus caminhava e seus discípulos o seguiam;
b)
Jesus e os discípulos caminhavam juntos;
Ser discípulo/a é estar com Jesus, segui-lo e
servir ao Reino, mas o itinerário de
discipulado revelado por Jesus mostra que Ele quer que participemos do sonho de
Deus, mas respeita a resposta de cada pessoa, inclusive as negativas (Mt 19,
22ss).
O Reino que indica
um caminho
Após percebermos que a proposta de
edificação do Reino, feita por Deus Pai, se tornou a opção de vida de Jesus e
que Ele nos convocou para darmos continuidade a essa missão é momento de parar
e refletir como estamos diante desse chamado. Esse discernimento não é fácil,
traz grandes desafios diante das diversas opções oferecidas nos tempos
modernos, sendo umas favoráveis e outras desfavoráveis nesse caminho. Por isso,
junto ao embalo dos sonhos juvenis, é preciso partir da aventura empolgante do
Evangelho, pois o Deus Trinitário e o seu Reino nos devem iluminar o caminho
vocacional de cada um/a e da comunidade.
Partir do Evangelho é partir do sonho de
Deus e de seu desejo para a humanidade, seu Reino. O processo vocacional deve
partir da experiência de Deus, como o que chama eternamente porque ama, e
amando chama para, em comunidade, ajudarmos na edificação de seu Reino. No
chamado, a iniciativa é sempre de Deus que dá condições, através de dons e a
resposta é livremente ofertada pelos/as chamados/as.
Não devemos nos sentir incapazes de dar essa
resposta alegando limites e fraquezas, pois os dons são biblicamente definidos
como graça e Espírito ofertado a todos/as. O conceito introduzido por Paulo na
literatura Cristã como “expressão abrangente que designa os dons da graça dos
cristãos, que são entendidos como manifestações da charis, do poder da graça de Deus e de seu Espírito”, ajudam
compreender que o carisma é dado individualmente, próprio (I Cor.7,7), mas
impõe um desdobramento comunitário, ou seja, deve se tornar um serviço à
comunidade. O dom ou carisma é, pois, a célula tronco que gerará a vocação e,
ainda, o talento que em seu desenvolvimento vocacional revelará um projeto de
vida que inclui o sonho de Deus a as necessidades humanas[1].
Mesmo com auxílio dos dons ofertados por
Deus é preciso estar atento/a sobre como fazer o discernimento do chamado. A
descoberta vocacional é exigente, pressupondo crises pessoais em relação aos
questionamentos existenciais que põem em cheque várias concepções até então
postas como certas e verdadeiras. Conflitos familiares e sociais por contrariar
lógicas estabelecidas e sonhos questionados, valores revistos, com novos rumos
tomados.
O discernimento sério com esse itinerário
levará à descoberta vocacional e ao compromisso na continuidade do Reino,
unindo o sonho pessoal com o sonho de Deus. Nesse encontro de sonhos, a pessoa
é livre para escolher a lógica para sua vida, mas não é livre para sair dessa
lógica, pois trair-se significa trair o projeto de Deus. Esse itinerário mostra
que optar livremente pelo Reino implica na responsabilidade de não romper com o
dinamismo da opção vocacional feita. Esse dinamismo diz respeito às implicações
vocacionais, como: doação, vivência na e para a comunidade, dimensão social
como responsabilidade e resposta diante do sim dito mediante o discernimento
feito.
Questões
1)
Sobre o Reino de
Deus, reflita:
A – O Reino de Deus é
uma Proposta para iniciar na terra o que teremos em plenitude no céu.
B – São sinais do
Reino de Deus: Justiça, paz, fraternidade e outros valores que edificam a
pessoa.
C – O Reino de Deus é
uma espécie de monarquia.
2)
A respeito da
opção pelo Reino:
A – A opção pelo Reino
é automática e já feita por todos/as.
B – A Trindade optou
pelo Reino e Jesus o inaugurou, convidando pessoas para contribuir nesta
edificação.
C – Optar pelo Reino é
fazer todo mundo feliz, independente dos meios que se utilize para este fim.
3)
Quanto ao caminho
que leva ao Reino:
A – O caminho do Reino
é o que mostra o brilho pessoal e a felicidade geral.
B – Reconhecer os
potenciais próprios, abraçando a vocação, e dos outros, contribuindo
comunitariamente para o bem das pessoas e do planeta em geral, são caminhos que
sinalizam que estamos edificando o Reino.
C - Justiça,
convivência fraterna são algumas das atitudes que levam ao caminho do Reino.
Referências
Bíblia:
Lc 4,14-21; Lc 5,1-12.10,1-16; Mt 3,1-17; Mc 10,13-16; (Mc 10,13-16); (Mc
10,1731); (Mc 10,32-45); (Lc 17,20-21); (Lc 18); (Lc 10 1-12); (Lc 14,15-24); (Mc
2,14; 3,13); (Mt 13, 52); (Mc 10,29);(Mt 8, 19-22 10,37; 19, 16-22); (Mc 8,34).
É
Frei Rubens Nunes da Mota, OFMCap.
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