Texto 5: Experiência de Deus - Nossa participação no Projeto
O chamado de Deus
e o convite para participar de Seu Projeto
Os primeiros textos nos ofereceram um
caminho que facilita este quinto texto, pois através da imagem da Trindade já é
possível verificar a experiência de Deus e seu Projeto. A partir da comunhão
com Deus Trindade fica mais fácil compreender seu projeto do Reino, expresso pelo
Pai, no Filho em sintonia com o Espírito Santo. Se a compreensão do chamado
Trinitário já está posto no primeiro texto, agora cabe mais um passo antes de
continuar o caminho que contribua no discernimento vocacional, que é a
compreensão de quem quer percorrer o caminho, parabéns a você que está lendo e participando
em nosso blog, continue firme.
O chamado de Deus entende pessoas
inteiras, integradas consigo e com sua história. Isso não quer dizer que existe
uma ordem linear onde ocorre, primeiro a comunhão com Deus e, depois, uma
comunhão consigo mesmo. Nem tão pouco entrar em comunhão com Deus se torna um
aval automático para estar em comunhão interna. Essa não é uma sequência e nem
essa organização quer impor essa ordem, pois há pessoas que precisam ajustar
sua história pessoal, para depois conseguir perceber outras realidades e há
situações onde esses ajustamentos se dão de forma paralela, ao mesmo tempo.
Essa proposta quer dizer que a comunhão com Deus e consigo pode ajudar no discernimento
diante do chamado de Deus.
O
caminho para entrar em comunhão consigo mesmo, me parece bastante particular,
pois tem a ver com a história de vida de cada pessoa. Aqui, creio que cabe, no
máximo e com certa ousadia, propor um itinerário para entrar em contato com a
própria história, processo facilitado para a proposta dessa etapa. Vou apresentar
seis etapas que podem ajudar:
1
- Fazer anamnese, uma memória viva da própria história. Nessa memória devem ser
considerados aspectos familiares que dizem respeito à árvore genealógica[1];
2
– A própria identidade originária: quem deu o nome, o que motivou esse nome,
qual a inspiração para esse nome; qual o significado e origem;
3
– Sobre a cultura onde a família esteve inserida: o que é próprio da região
onde nasceu; costumes alimentares; jeito de falar; comidas típicas;
4
– Dimensão religiosa: a forma de rezar/orar; a imagem de Deus que me foi
passada na catequese e pela família;
5
– Contexto do sistema: perceber a dimensão política e ideológica da época;
questões econômicas (condições financeiras – realidade sócio-econômica);
6
- Dimensão afetiva/sexual: como tomou contato com o corpo (primeiras
descobertas sobre a heroicidade); paixões; desejos; relacionamentos.
Comunhão com Deus
Fazer
experiência pressupõe união comum entre um desejo e uma iniciativa. Damos o
nome a esse duplo movimento de ação vocacional. A iniciativa é de Deus e terá
ressonância se encontrar na pessoa chamada um desejo despertado para fazer a
experiência. Encontrando resposta, o chamado terá um dinamismo próprio,
estabelecendo uma aliança/comunhão de amor com quem chama (SAV/CNBB, 2009).
Amadeo Cencini[2]
diz que existem muitas implicações culturais que podem dificultar a compreensão
desse chamado. Cultura, diz Cencini, é compreendida como fruto da interação
humana, que tem pontos de encontro, ou seja, a assimilação de valores e
costumes. É o que se converte em sistema e tradição, sendo expressão da
identidade de um povo. Tem valor subjetivo e objetivo que dão valor à sua vida.
Não se dá através de somente repetições, mas deve ser motivacional sempre. É
uma prática de vida que, mesmo tendo um método, é vivencial, não sendo somente
um dado teórico e comportamental, mas atenção à vida cotidiana.
A cultura vocacional implicará no encontro
entre as crenças pessoais e os valores comunitários. O desafio aqui é discernir
a respeito das coisas que vamos agregando como valores em nossas vidas. Nem
tudo o que existe no contexto social é saudável nem nos ajuda em nosso projeto
de vida. Essa assimilação será mais saudável se as crenças pessoais se
converterem em patrimônios que servem à comunidade e a sociedade, fazendo do
valor subjetivo um dom público, ou ainda, a satisfação pessoal tornará também
satisfeitos a outrem.
Para que o discernimento vocacional esteja
no caminho correto, do Reino, é preciso observar se há uma devida comunhão com
Deus e seu projeto. Esse projeto deve ser compreendido a partir de uma teologia
vocacional que parte de Deus, ou seja, reconhece Nele a autoria e o chamado e
encontra ressonância no projeto D’ele mesmo. Parte da imagem de Deus como o que
chama e ama eternamente para contribuir na sua messe. Os critérios, já vimos
nas lições anteriores: justiça, fraternidade, participação...
Vocação como
projeto de vida
O termo vocação não fala exatamente de um
projeto de vida, de um serviço, mas fala de Deus, de um Deus que chama para
manifestar seu amor. Deus não quer empregados, mas está interessado na vida e
no desejo de compartilhar seu mistério. Esse mistério que se deixa revelar, não
é um enigma frio. É mistério sim, mas revelado na diversidade das vocações, não
somente uma, mas na diversidade. Mesmo a salvação e redenção são pilares do
mistério que envolve a vocação humana, sendo um convite ao ser humano à
participação para amplitude, causa social.
Vocação aqui não é somente para salvação e
santidade pessoal, não se reduz unicamente ao âmbito pessoal, mas tem um
desdobramento comunitário e social. O vocacionado/a é para encarregar-se pelas
demais pessoas, fazer-se veículo que transmite a herança divina, pois esta é a
dinâmica do Reino. Foi para isso que Deus fez o ser humano sua imagem, capaz de
ser agente de salvação.
Entender que o relacionamento com Deus pertence
somente à esfera pessoal, egoísta, sem o aspecto missionário é infantilizar a
teologia vocacional e deturpar a comunhão com Deus. A comunhão deve despertar para
um chamado que leve a participar da obra da redenção. Esse é o mistério de Deus
que vem ao encontro do nosso mistério, é a nossa história, com seus limites e
virtudes, que se propõe continuar a história de salvação, o Reinar de Deus.
Questões
1)
Sobre o convite de
Deus, reflita:
A – Deus convida
porque nos ama e quer contar conosco.
B – Deus não admite
resposta negativa para seu convite.
C – O convite de Deus
pede de nós intimidade com nossa própria história para responder.
2)
Em relação à
comunhão com Deus:
A – Tenho que dar
total importância a meus desejos e satisfazê-los sempre.
B – O que sinto deve
estar acima de toda e qualquer decisão.
C – É importante
valorizar os sentimentos, porém devemos discernir a partir do critério do Reino
de Deus (servir e amar).
3)
Sobre vocação como
projeto de vida:
A – Vocação é assumir
a continuidade da vontade de Deus.
B – A relação com Deus
gera Projeto de vida que é compromisso que faz bem para mim e para o próximo,
especialmente os mais necessitados/as.
C - Deus quer empregados
e por isso nos chama.
Referências
Texto: Esquecer para lembrar –
Rubem Alves
Textos
Bíblicos: At 17,22-34; 1Pd 3,15; Rm 8,14-17.28-30; 1Jo 4,7-10; Gl 4,4-7
[1] A árvore genealógica tem
vários formatos e compreensões, mas aqui pode ser compreendida da seguinte
maneira: as raízes são os patriarcas e matriarcas (antepassados); a árvore é a
família nuclear (pais e irmãos), onde o tronco pode ser os pais e os galhos os
irmãos.
[2] II Congresso vocacional
promovido pela Conferencia Episcopal Latino Americana (CELAM), Costa Rica. Em
Mota, 2011.
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