1. Imagem de Deus Trindade
Texto 1: Experiência de Deus Trinitário
1. Imagem de Deus Trindade
Este primeiro texto sobre a Experiência de
Deus, a partir da Trindade, não quer ser somente uma teoria sobre a Trindade,
mesmo porque não tenho condições de tecer aqui toda teologia capaz de expressar
esta grandeza, mas quer ajudar você a percorrer um caminho. Este caminho deverá
refletir sobre a experiência de Deus que você tem, assim possibilitando a
compreensão da Fé, que você já traz em sua história, ou despertar a presença de
Deus, que já está em sua vida. Atingido esse objetivo o passo seguinte será
pensar se toda essa experiência pode levar você à elaboração de um Projeto de
Vida que possa ajuda-lo a experienciar a sua fé, na realidade concreta do seu
dia-a-dia.
A presença de Deus se mistura com nossas
vivências e nem sempre são fáceis de serem percebidas e discernidas. Duas
perguntas me ajudam perceber a influência que a imagem de Deus tem sobre minha
identidade. Uma é Quem é Deus para mim?
Essa pergunta evoca respostas que revelam em que imagem de Deus eu acredito e
como essa imagem influencia minhas atitudes, ações e concepção de vida. A
segunda é Quem sou eu (ou estou sendo)
para Deus? Normalmente, essa tem sido uma pergunta mais difícil de ser
respondida nos exercícios que tenho feito junto às pessoas com as quais exerço
o ministério do acompanhamento espiritual. O grau de dificuldade é justificado
pela posição necessária para reflexão, ficar no lugar de Deus e perceber-se a
partir D’ele. Essa segunda questão tem o mesmo objetivo da primeira, o de
mostrar o quanto a crença em Deus tem efeitos concretos em minhas atitudes.
Como está dito no primeiro parágrafo, este
texto quer evocar as experiências pessoais e relacioná-las com a imagem de Deus,
trazendo à consciência o nível de influência que a crença pessoal tem em nossa
constituição, buscando assim, não só compreender quem é Deus racionalmente, mas
fazer Experiência D’Ele na vida concreta. É muito comum que a concepção que
tenho de Deus seja expressa no meu dia-a-dia, pois a imagem que concebo de Deus
é expressa em minhas relações. Neste raciocínio a relação comigo, com Deus e
com as pessoas estarão influenciadas por essa imagem que fui cultivando ao
longo da história de vida.
A experiência de Deus, nesta compreensão,
está ligada intimamente às experiências cotidianas que tenho. Quanto mais
percebo a presença de Deus na minha história de vida e em minhas relações, mais
Deus vai participando do meu cotidiano, assim a intimidade vai sendo construída.
Dessa relação profunda e íntima vai sendo possível perceber a manifestação de
Deus Trindade, Deus que é uno na Divindade e três enquanto pessoas.
2. Trindade,
mistério revelado
A experiência cotidiana não consegue
expressar a totalidade de Deus Trindade, nem tão pouco os teólogos conseguem explicar
tudo em seus escritos. A essa experiência inexplicável dá-se o nome de
Mistério. O Dicionário da Língua Portuguesa diz que Mistério é um segredo
religioso, tudo quanto a razão não pode explicar ou compreender, um enigma ou
uma coisa oculta, um segredo. No dicionário de filosofia (N. Abbagnano) temos
uma maior aproximação da experiência que fazemos do Mistério quando diz que é
uma verdade revelada por Deus que deve ser mantida secreta.
Santo Agostinho definiu mistério não como
aquilo que não se pode compreender, mas como aquilo que não se acaba de
compreender, ou seja, se faz a experiência, mas não se pode apropriar
completamente. Seria possível compreender esse mistério? Creio que é melhor
tentar perceber o movimento de Deus Trindade como possibilidade de perceber esta
presença em nossas experiências abrindo-nos para esta percepção nos faça
comprometer com seu chamado para missão.
O movimento da Trindade se dá em três
dimensões:
1 - NA
CRIAÇÃO quando o Pai Criador está no centro, mas, em torno dele está o
Espírito como energia da criação e o Filho como forma da criação. (ler: Gn
1,26; 11,7; 3,22)
2 - NA ENCARNAÇÃO quando o Filho está no
centro, e ao seu redor está o Pai que o envia e que o chama, e o Espírito que o
assiste e lhe dá inspiração. (ler: Lc 1,35; Jo 1,10-12)
3 - NO TEMPO DA IGREJA quando é a vez do
Espírito estar no centro, enviado pelo Filho que está junto do Pai para que o
Espírito configure este mundo à imagem do Filho e assim seja entregue ao Pai.
(Jo 14,23; 14,15-16; 16,5-8; Gl 4,4-7)
Neste movimento o Espírito não seria Deus
se não recebesse do Pai e do Filho a sua espiritualidade. Nem o Filho seria o
Divino Filho se não recebesse do Pai a sua filiação e do Espírito a sua
condição espiritual. Todavia, nem o Pai seria Pai e fonte da Trindade se não
recebesse do Filho a sua paternidade – não seria Pai se não tivesse um Filho e
se não recebesse do Filho o reconhecimento da paternidade. Nem seria espiritual
e santo se o Espírito Santo não o glorificasse. Por isso se pode dizer que o
Pai recebe do Filho e do Espírito a sua paternidade e santidade. A
reciprocidade divina chama-se amor, e torna os três, um só Deus.
3. Trindade como
manifestação do amor de Deus
A grande revelação do movimento da Trindade
é a maneira de amar. Observando o presente da criação toda ofertada pelo Pai, a
vida doada do Filho e o acompanhamento do Espírito, percebemos que essa maneira
de amar é totalmente gratuita. A este tipo de amor se dá o nome de Ágape que tem sua origem grega e era
muito utilizado pelas primeiras comunidades cristãs para expressar o amor que é
coparticipação do amor de Deus através da convivência testemunhal.
Aparece 177 vezes no Novo Testamento (Rm
5,5; Jo 15,9; Jo 17,26), mostrando todas as potencialidades positivas de que o
coração humano é capaz. Fomos inspirados no Amor Ágape que é pura gratuidade e
doação. Amor sem interesse na troca, no ganho; ao contrário, dá de graça.
4. Trindade como
vivência fraterna
Sendo três pessoas diferentes e
convivendo na unidade de um só Deus, a Trindade é para nós cristãos um
testemunho concreto da possibilidade da vivência fraterna. O Pai é de um jeito,
o Filho de outro e o Espírito outro ainda e convivem em prol de um mesmo
projeto que é a edificação do Reino. O Reino foi inaugurado por Jesus, o Filho,
como possibilidade da realização humana aqui na terra. São sinais do Reino:
vivência fraterna, solidariedade, justiça, amor e muitas outras características
que nos tornam imagem desse Deus, que professamos em nossa fé.
Deus Trindade não é egoísta, não
vive pra si e em função de si, mas tem um projeto de amor para a humanidade e
toda criatura. O Pe. Itacir Brassiani, msf, fala da perfeita comunhão de Deus
como uma doação mútua, como dom radical para o outro: “o Pai entrega tudo ao
Filho, exceto sua paternidade, e se entrega inteiramente no Espírito como fonte
de vida às suas criaturas; o Filho dá tudo ao Pai e se entrega a nós no
Espírito Santo, no mesmo espírito de doação; o Espírito Santo é puro dom, força
e dinamismo que sustenta o dom recíproco entre o Pai e o Filho e a entrega de
ambos na paixão pelo mundo”.
Percebemos ao longo deste primeiro texto,
que a Santíssima Trindade nos revela seu amor Ágape que é doação, e mostra que
isso só é possível na relação fraterna com os outros e com todas as criaturas.
Esta é nossa vocação primordial, somos filhos e filhas de Deus Trindade quando
observamos esta vivência.
Questões
1)
Sobre a imagem de
Deus Trindade, reflita:
A - É um Deus santo
que somente faz milagres.
B – É Deus comunidade
que pode ser seguido e inspira meu projeto de vida.
C – São três pessoas e
um só Deus.
2)
Sobre o Mistério
da Trindade:
A – É algo
incompreensível, por isso não se pode viver.
B – É totalmente
compreensível, por isso se pode explicar completamente.
C – É uma revelação
possível de ser experienciada, porém conserva seu segredo.
3)
Sobre a manifestação
do amor fraterno:
A – O amor revelado
por Deus é chamado de amor Eros.
B – O convite que o
amor de Deus faz é para doação e dedicação missionária.
C - Quem vive a
fraternidade está conseguindo fazer experiência da Trindade aqui na terra.
Referências
Abbagnano,
N. Dicionário de filosofia.
Aurélio,
Dicionário da Língua Portuguesa.
Cambón E. (2000). Assim na terra como na trindade. Ed.
Cidade Nova.
Mota,
R. N. (2011). Experiência de Deus que gera projeto de vida. Revista
Convergência, CRB Nacional.
Susin
C. L. (2003). Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Paulinas.
Texto:
Pe. Itacir Brassiani msf
Frei
Rubens Nunes da Mota, OFMCap.
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